ÁREA INTERNA

Vencedor de prêmios internacionais, o projeto do Salvador Shopping, tornou-se modelo emblemático da expertise dos arquitetos André Sá e Francisco Mota no segmento shopping centers. Inspirados na contemporaneidade, que transformou este equipamento urbano, de sua original concepção de centro de compras, também em espaço de convivência e entretenimento, a AFA desenvolveu o projeto arrojado do empreendimento

Obra grandiosa não apenas pelos números envolvidos – 231mil e 400 metros quadrados de área construída num terreno de 120 mil metros quadrados – mas, principalmente, pela preocupação com a eficiência energética, respeito ao meio-ambiente e sustentabilidade.

Nove coberturas curvas de vidro, projetadas com encontros de vários arcos metálicos, proporcionam transparência ao conjunto edificado do Salvador Shopping, na capital baiana. No total, são 8,5 mil metros quadrados de área envidraçada de fachadas e coberturas, que permitem a entrada generosa de luz natural. Ao aliar o uso de vidros duplos serigrafados – com câmara de ar hermética nos locais de insolação mais crítica – ao desenho arquitetônico das clarabóias e fachadas transparentes, o equipamento aprimora a utilização de recursos naturais.

ARQUITETURA

Em diferentes composições, vidro e estruturas metálicas foram utilizados para coberturas, escadas, pisos e guarda-corpos. Atendendo às condicionantes do projeto arquitetônico, que indicava a criação de grandes áreas translúcidas, porém com baixa refletividade, a especificação dos vidros considerou o clima de Salvador e o posicionamento das fachadas em relação à luz solar. Através de consultorias especializadas em ar condicionado, fachadas e vidros, foram escolhidos materiais que permitissem transmissão luminosa e, ao mesmo tempo, evitassem a entrada de calor no ambiente interno. Mesmo durante o dia, a transmissão de luz desses vidros proporciona conforto visual, já que não permite luminosidade excessiva.

Além da iluminação natural, o shopping center possui sistema de automação predial para gerenciamento e controle do uso de energia, que permite o acionamento de equipamentos e luminárias por meio de sensores, apenas quando necessário. A água da chuva é armazenada, filtrada e empregada na descarga de sanitários e o sistema de esgoto a vácuo reduz em cerca de 90% o consumo.

Desenhada com patamares em balanço, que transmitem a impressão de estarem soltos no ar, uma escada monumental interliga todos os andares. Com estrutura metálica, recebeu degraus e patamares de vidro laminado de 20 milímetros com PVB opaco. O mesmo material foi aplicado em passarelas e patamares do elevador panorâmico, totalizando área de 900 metros quadrados. Os pontos de fixação das estruturas da escada localizam-se apenas próximo aos primeiros e últimos degraus de cada lance, onde se apóia a estrutura metálica que parece flutuar no espaço.

URBANIZAÇÃO

A “escada voadora”, como é conhecida, tem pórtico espacial em balanço, rigidamente ancorado nas suas extremidades. Os seus pilares, que vão do piso térreo ao último pavimento, são metálicos, tubulares, vazados, com 400 milímetros de diâmetro e dez metros de altura. Associados a travamentos projetados, esses pilares funcionam estruturalmente como um pórtico espacial.

Para garantir a segurança dos usuários sem comprometer a estética, no lugar de fitas antiderrapantes nos degraus de vidro optou-se por uma solução simples, porém eficiente: nos perfis em forma de L, onde os vidros são apoiados, foi aumentado apenas um milímetro na aba vertical (quina de descida do degrau), criando-se uma saliência que é suficiente para o usuário não escorregar nem tropeçar.

O projeto de arquitetura concebeu uma fachada frontal de 2.774 metros quadrados, inclinada com cerca de 18 graus. Como os arquitetos queriam uma solução que empregasse o mínimo possível de ferragens e estruturas, foi utilizado um sistema de envidraçamento estrutural, que dispõe de cabos de aço com ferragens de aço inoxidável, conjunto que suporta os vidros ao mesmo tempo em que dispensa o uso de caixilhos.

Distanciados dez metros entre si, os pilares estruturais foram utilizados para a ancoragem de pilares metálicos de dez metros de altura, fixados no piso e na estrutura superior da laje, para darem inclinação à fachada. A solução, desenvolvida por consultores especializados, mostrou-se eficiente, tanto em relação às exigências de transmissão de cargas, quanto às de leveza, pois as cordoalhas de aço e suas ferragens são os únicos elementos estruturais entre os vãos.

A estrutura do edifício recebeu pilares com perfil metálico encapsulado por concreto, vigas metálicas e lajes do tipo steel deck. Com o objetivo de cumprir o prazo de 18 meses para conclusão da obra, foram empregadas estrutura mista de concreto e aço, alvenarias externas convencionais em bloco de concreto e divisórias internas de drywall. As cargas estão distribuídas em uma malha de pilares de 10 x 8 metros. Lajes metálicas, que dispensam escoramento para a concretagem, permitiram o uso imediato dos ambientes em outras etapas de montagem e construção.O conceito estrutural baseou-se na criação de um pilar misto, composto por um perfil metálico de montagem (250 x 250 milímetros), a partir da cabeça do pilar de concreto armado (600 x 600 milímetros), um metro abaixo da cota do piso da primeira garagem. Assim, dimensionou-se o perfil metálico de modo a permitir a montagem e a concretagem de até dois pavimentos de lajes, sem a necessidade da concretagem dos pilares metálicos. Essa solução conferiu maior velocidade e precisão na montagem do vigamento metálico, além de tornar a obra limpa, facilitar a logística e evitar o desperdício de materiais.

Para minimizar o impacto da implantação da obra na cidade, foi feita uma intervenção viária de grande porte no entorno, com a construção de pistas duplas na parte frontal do centro de compras, além de pistas laterais e alargamento da via existente em frente do Hospital Sarah Kubitschek. Foram também construídos dois viadutos, três pontilhões, três passarelas e duas passagens de nível. As áreas vizinhas ao shopping center ganharam projeto paisagístico desenvolvido pelo escritório de Benedito Abbud, que procurou integrar ambientes internos e áreas externas.

Quando foi inaugurado, em maio de 2007, O Salvador Shopping possuía 263 lojas. Após a inauguração da sua expansão em setembro de 2009, passou a contar com 464 operações – entre lojas, mega lojas, restaurantes e cinemas – e estacionamento para mais de cinco mil veículos. O local é servido por 21 escadas rolantes, o mesmo número de elevadores e quatro esteiras rolantes, além de escadas monumentais, produzidas com metal e vidro. Até junho de 2009, era a maior obra com estrutura mista de aço e concreto realizada no país.